Série Por onde anda Mundocross? – Nuno Narezzi
Por Mariah Morgado e Silvio Bilhar | Fotos por Arquivo Pessoal Nuno Narezzi | 10 de junho de 2015 - 8:00A história do motocross brasileiro é muito rica, com pilotos que marcaram seus nomes na história, que impulsionaram o esporte em solo brasileiro, que representaram a bandeira do Brasil no exterior, tivemos a Era de Ouro do Motocross. São muitos anos de estrada pelas pistas do país, muitas pessoas que merecessem ter suas histórias contadas, momentos inesquecíveis e que merecem ser relembradas. Pensando nisso, o Mundocross resolveu lançar uma nova série de entrevista: Por onde anda? Vamos trazer para vocês os maiores nomes do nosso esporte, saber por onde andam, o que fazem, como são suas vidas após o Motocross, ainda continuam envolvidos com o esporte? Vamos relembrar as histórias e carreiras dessas lendas!
Vamos dar a largada de nossa nova série com uma lenda não só dentro do Brasil, mas que ultrapassou as fronteiras de nosso país se destacando pela América Latina e Estados Unidos. Ele abriu as portas do mundo para os pilotos brasileiros das gerações seguintes, foi um verdadeiro divisor de águas. O Mundocross trás para vocês, Nuno Narezzi na série ‘Por onde anda Mundocross?’!
Mundocross – Nuno, conte para os leitores do Mundocross como foi o seu ingresso no Motocross.
Nuno Narezzi – Em nossa época as coisas aconteciam um pouco como brincadeiras. Eu tinha uma moto off road e praticava como lazer. Até o dia em que realmente participei de uma prova oficial do Paulista de Motocross, na cidade de Jundiaí, em agosto de 1983. As dificuldades eram grandes, não existiam condições e como comprar motocicletas de competições. A importação era proibida e isso dificultava a prática do esporte. Mas vencemos tudo isso.
Mundocross – Você tem uma carreira longa no Motocross, se destacando no cenário nacional e internacional. Conte-nos como foram os anos 90 dentro do Motocross.
Nuno Narezzi – Nossa! Para mim foi fantástico fazer parte desta época, competir com Saçaki, Negretti, Rogerio, Cassio Garcia, Chumbo entre muitos outros. As baterias eram de 40 minutos mais 2 voltas, o preparo físico obrigatoriamente tinha que ser muito bom. Os circuitos “pistas” da época, eram as melhores e lendárias. Tenho uma baita satisfação e sorte em ter participado dos anos 90. Vamos lembrar um pouco: na verdade iniciei nos anos 80, peguei o finalzinho dos grandes nomes do Motocross. Tive a honra de competir também com Paraguaio, Moranguinho, Paraíba, Boetcher, Nivanor e muitos outros monstros do motocross. Costuma dizer que os títulos que conquistei têm peso (02), ganhar desses caras ai não era nada fácil!
Mundocross – Quantos títulos você tem na bagagem? Quais deles te marcaram mais?
Nuno Narezzi – Foram 04 Brasileiros e 09 Paulistas. Além de um do Enduro nas Praias, prova essa super importante no cenário nacional da época. A mais importante sempre é a primeira em 1991. Ficou marcada.
Mundocross – Foram muitos anos na estrada com o Motocross. Com certeza você deve ter muitos momentos e histórias que lhe vêm à cabeça agora. Qual o seu momento favorito da carreira?
Nuno Narezzi – Sem sombra de duvida foi a participação no Motocross das Nações em 1997 em Nismes, na Bélgica. Fiz parte da primeira equipe brasileira a participar desta competição. Foi uma participação com todas as dificuldades possíveis e imaginárias, nem a moto que eu iria correr não sabia como e de quem era kkkk … Mas alguém teria que iniciar isso. Abrir essa porta. E eu estava lá, contribuindo com o motociclismo nacional. Diante do desconhecido, fizemos nossa participação e abrir essa porta lendária do motocross.

Um dos destaques da carreira: Motocross das Nações 1997, team Brasil formado por Nuno, Rogério, Cristiano Lopes e Ricardo Raspa, ao lado de Wilson Yasuda.
Mundocross – De todos os lugares que você visitou com as corridas, qual que te marcou mais?
Nuno Narezzi – Conheço esse “Brasilzão” de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Terra maravilhosa sem igual, mas gosto muito de Rondônia. Fora do Brasil, particularmente a Itália,“Mantova”, um circuito de areia bastante respeitado por todos os pilotos.
Mundocross – Dos anos 90 até hoje, o esporte evoluiu muito. A tecnologia mudou muito os equipamentos, as motos, o desenho das pistas, a estrutura das equipes. Como você avalia essas mudanças?
Nuno Narezzi – Tudo evolui! O esporte, as motos, os pilotos, as equipes, as configurações das competições vão se adequando para atrair sempre um grande público. Com a evolução tecnológica, facilitou muito o acerto das motos, porem ainda é necessário a contribuição do piloto para o acerto final e mais preciso. Os equipamentos cada vez mais facilitam a vida dos pilotos no desenvolvimento da pilotagem. As pistas … Ha quem goste, ha quem não goste, mas prefiro as naturais do passado. Isso ainda é muito visto em alguns locais por onde passa o mundial de MX. A estrutura das equipes são fantásticas, é possível proporcionar tudo e dar todo conforto que um piloto necessita, além dos mecânicos poderem desfrutar de todo aparato técnico para trabalhar e preparar as motocicletas com tranquilidade.
Mundocross – Apesar de não estar mais dentro das competições oficialmente, sabemos que você continua praticando esportes, não deixou de ser um atleta. Conte para nós como eram os treinos da época em que era um piloto profissional?
Nuno Narezzi – Atividade esportiva sempre fez parte da minha vida, atualmente pratico ciclismo e natação, além das minhas voltinhas por lazer no Motocross. Os treinamento na nossa época eram que meio sem noção, isso mesmo! Não havia profissionais na época para dar orientação e preparação. Eram poucos os profissionais, diferente de hoje que tudo está bastante difundido e a disposição dos atletas. Eu fazia inúmeras atividades para atingir um excelente preparo físico, mas tudo sem uma boa orientação. Corria, pedalava, nadava, aulas de aeróbica, musculação leve, fazia treinamentos em escadas até a exaustão, entre outras atividades adaptadas na época (tipo o funcional ou o CrossFit atualmente). A carga horária ultrapassava os limites achando que se sentir esgotado seria muito bom para a prova rs … Os treinamentos com moto não eram diferentes. Éramos obrigados a treinar muito em função das baterias serem longas, realizamos todo tipo de treinamento: baterias longas, baterias curtas e rápidas, bateria mescladas (uma volta rápida e mais duas ‘de boa’). Os treinamentos específicos eram tipo fazer o oito, estrela, curvas, somente costelas e por ai vai. Mas também tinha os treinamentos de recreação para desestressar e descontrair rs …

Treinando para o Motocross e para a vida: Nuno sempre se preocupou em manter a forma física e trouxe os hábitos do Motocross para sua vida fora das pistas.
Demorou a aparecer profissionais para uma orientação mais adequada e exclusiva para este esporte. Recordo-me que a primeira avaliação física no Centro Olímpico do Ibirapuera foi minha. Não existia até então, no histórico do Centro Olímpico, uma avaliação feita por um piloto de Motocross. Se for procurar nos registros, vai achar o meu nome por lá como a primeira avalição realizada no Centro Olímpico deste seguimento.
Resumindo, o que me marcou muito, era a grande carga horária de treinos e atividades que fazíamos para nos mantermos no esporte.
Mundocross – Em relação as configurações atuais dos campeonatos, brasileiros e estrangeiros. O que você acha delas comparando com os formatos da época em que competia?
Nuno Narezzi – No decorrer dos tempos, se foi tentado alguns formatos diferentes no intuito de manter a competitividade e proporcionar um bom espetáculo ao publico. Acho que a maneira que se encontra está excelente. O piloto tem um tempo mais que suficiente para colocar em prática sua pilotagem e estratégia, por outro lado não está cansativo para o publico. As pistas também estão contribuindo muito para um grande espetáculo. Apesar de as naturais serem as melhores, a meu ver.
Mundocross – Hoje em dia vemos os pilotos enfrentando uma dificuldade enorme para conseguir patrocínios e se manter no esporte. É muito diferente dos anos 90? Como era para vocês naquela época?
Nuno Narezzi – Em nossa época tudo era muito difícil, o acesso as motos, peças de reposição, equipamentos especiais, estrutura da equipe, equipamento e acessórios do piloto e as ferramentas apropriadas. Porém, com muito pouco se fazia muito. Hoje exige muito da parte financeira. Temos tudo que precisamos e queremos a um preço muito alto. Tudo é a base do dinheiro. No esporte é assim, é movido a finanças e interesses, tudo normal a meu ver. Em minha carreira tive patrocinadores fantásticos ao meu lado, patrocinadores que estiveram sempre ao meu lado durante toda minha carreira, mesmo nos piores momentos. Até nos dias de hoje se necessito de algo desses patrocinadores, é só pedir. Posso dizer que consegui realizar todos meus desejos junto a todos eles. Hoje, infelizmente estamos (no Brasil) passando por um período muito difícil e complicado. Esse fantasma da incerteza que assombra nossos pais acaba comprometendo o esporte, e isso não é de hoje. Eu como empresário do ramo das duas rodas, venho sentindo isso já há algum tempo e já dizia a dois ou três anos atrás que o motociclismo iria passar momentos complicados. Se eu tenho dificuldades de comercializar meus produtos, certamente aquele fabricante que me fornece também não terá um faturamento à altura para poder contribuir com patrocínios em provas e com pilotos e equipes. Infelizmente vivemos um momento de escassez onde é necessário se virar com o pouco que se tem a disposição e pedir para o Papai do Céu não deixar faltar de vez.
Mundocross – E como está a vida de Nuno Narezzi após o Motocross? Ou você ainda continua ligado ao meio?
Nuno Narezzi – Como disse, sou uma pessoa ativa e gosto muito de práticas esportivas, trabalho com a Prolink “concessionária Honda” ou seja, continuo com as duas rodas em minha vida, adoro que faço!

Santo Feltrin, Moronguinho, Nuno e Antonio Siqueira em um evento realizado em Abril deste ano, o Encontro Motos Story, em São Paulo.
Mundocross – Muito obrigada por dispor deste tempo para bater esse papo com a gente. Agora a palavra e o espaço são seus.
Nuno Narezzi – Em primeiro lugar agradeço a oportunidade de poder conversar com o Mundocross e poder contar um pouco da nossa carreira. Essa oportunidade é de muita importância, pois relembramos nosso passado e poder conta-lo aqui para todos os leitores e amantes do esporte. Nossa época foi marcada por grandes pilotos e equipes além de eventos fantásticos, uma época gloriosa do Motociclismo nacional e me sinto honrado por ter feito parte dela. Nosso país e a nossa modalidade necessita disso, contar a história de como tudo aconteceu e passar a frente para poder de alguma forma contribuir com nosso esporte.
Muito obrigado, forte abraço!

Nuno Narezzi primeiro da direita (embaixo): Corrida dos Campeões no GP Brasil de Motocross 2013 no Beto Carrero World.
Perfil do piloto Nuno Narezzi
Nome completo : Nuno Narezzi
Data de nascimento : 07/05/68
Cidade onde nasceu : Indaiatuba
Cidade onde mora : Indaiatuba
Motos atuais : CRF 450R e NC 750X
Principais títulos : 04 Nacionais e 09
Ídolo esportivo : Senna
Ídolo no Motocross Nacional : Álvaro Candido Filho “Paraguaio”
Ídolo no Motocross Internacional : David Bayle
Pista em São Paulo : Campos do Jordão (ainda sobrou uma pequena parte)
Pista favorita no Brasil : Joquey Clube em BH (não existe mais)
Pista favorita internacional: Mantova (Italia)
Comida favorita : Tudo hahaha
Bebida favorita : Agua
Estilo de filme preferido : Policial, ação.
Comida nos dias de corridas : Massa
Bebida nas corridas : Agua
Lazer preferido : Viajar
Esporte preferido fora o Motocross : Ciclismo
E-mail : [email protected]
Facebook: https://www.facebook.com/nuno.narezzi